21 de junho de 2016

Quando a doença é um apelo à afetividade


Rodrigo tem 13 anos e é o mais novo de 2 irmãos. Filho de pais separados vive com a mãe, enquanto o seu irmão de 18 anos se encontra a viver com o pai. Há uns dias atrás a sua mãe recebeu um convite de trabalho irrecusável, uma vez que está prestes a perder o atual emprego, para a Alemanha. Até o realojamento na Alemanha estar concluído, a mãe de Rodrigo irá sozinha e este deverá ficar com o pai e o irmão. Posteriormente a mãe virá buscá-lo para irem viver os 2 na Alemanha. Os dias passam velozes antes de a mãe partir e Rodrigo começa a apresentar sintomas de um problema articular no joelho!

Rita tem 7 anos é a mais velha de 2 irmãos. Os pais sempre estiveram presentes e atentos ao desenvolvimento e necessidades de ambos. Com frequência o pai de Rita tem de se ausentar por motivos profissionais. Quase sempre quando regressa Rita desencadeia uma crise de estômago debilitante, semelhante a uma gastroenterite!

Sofia e Mário são casados há 10 anos e não tem filhos. Sempre trabalharam na mesma cidade, partilharam os meus locais até há cerca de um ano, altura em que Mário mudou de empresa, de horários e começou a ter de se ausentar com frequência durante a semana. Com o tempo, Mário começou a prolongar as suas ausências e um dia falou com Sofia na hipótese de precisar de algum tempo e espaço para si, estando já a negociar com a empresa a sua transferência para outro país da Europa dentro de 3 meses. Passado 1 mês Sofia começa a sentir tonturas, mal estar geral e dores abdominais intensas.

O que está subjacente à sintomatologia das situações descritas?

Uma forma primária de expressão/comunicação (via doença), da forma de sentir e pensar. Uma forte chamada de atenção, um apelo à afetividade! 

Todo o ser humano é um complexo interligado entre corpo e espírito!

O corpo é um reflexo da mente! Quando falamos em doença há muito que se sabe que esta tem origem na mente e não no físico.

A doença é um estado do ser humano, indicador de perda de harmonia e de equilíbrio interior. Assim, o sintoma é um sinal manifesto no corpo, de algo que o perturba e/ou lhe faz falta.

Esta harmonia e equilíbrio interior começam a estruturar-se nas primeiras interações da criança com o seu meio ambiente à medida que este lhe vai proporcionando experiências a que ela responde expressando emoções, que lhe permitem diferenciar-se deste e sentir-se vinculada.

Ao longo do seu desenvolvimento é fundamental que a criança perceba claramente que, independentemente da vulnerabilidade das situações externas, das suas emoções e experiências, é amada e reconhecida pelos que a rodeiam, por forma a sentir confiança na expressão dos seus sentimentos aberta e francamente, mantendo assim o seu equilíbrio e bem-estar.

Quando na infância as mudanças são vividas intensamente e existe uma vontade imensa de as anular, a doença surge como resposta, na falta de conhecimento de outras formas de ação/manifestação do sentir, transformando-se num apelo ao reforço afetivo das figuras parentais.   

Para uma vida adulta, saudável, é fundamental termos uma imagem positiva de nós, uma boa autoestima, acreditarmos na nossa capacidade para lidar com diversas situações, enfrentar desafios e “fazer acontecer”! Só assim respondemos ajustadamente à vulnerabilidade dos elementos externos e das nossas emoções, restabelecendo rápida e corretamente ordem e harmonia na nossa consciência.

Os indivíduos que não conseguem expressar clara e honesta os seus sentimentos e emoções perante a mudança e as adversidades da vida, sentem-nas como uma ameaça ao seu equilíbrio interno e respondem sintomaticamente, num jogo de submissão/agressão tipo “Agora é a minha vez, tens de cuidar de mim!”, uma manifesta chamada de atenção!

Este tipo de resposta traduz incapacidade para resolver estas situações sob o ponto de vista emocional e manifesta uma baixa autoestima que se expressa através da manipulação.

Sempre que permitimos que a doença se manifeste como resposta e modo de interação social, ao invés de rapidamente estabelecermos o equilíbrio e harmonia desejados, estamos ainda a criar uma maior sensação de entropia interna. 

Transforme-se num agente de mudança e promova a harmonia e bem-estar!

J  Crie um ambiente seguro no seio familiar que promova o desenvolvimento dos seus filhos em harmonia e confiança. 

J  Comunique abertamente com eles, explique-lhes que as mudanças e as adversidades fazem parte da vida, são oportunidades de crescimento e evolução, tem sempre solução e que em nada põem em causa o seu amor por eles! 

J  Promova a sua capacidade para lidarem com as mesmas, incentivando-os a expressarem os seus sentimentos aberta e francamente.

J  Estimule o desafio das suas capacidades e apoie as suas resoluções.  

Aprenda a responder à mudança e às adversidades da vida com força e determinação!

J  Acredite mais em si, no seu potencial para resolver situações e mudar o rumo dos acontecimentos da sua vida!

J  Conheça-se melhor! Identifique os seus valores, sentimentos, pensamentos e desejos. Expresse-os sem receio, praticando o respeito mútuo.

J  Ame-se pela pessoa que é! Não permita que o seu amor e a sua felicidade dependam de fatores externos, pois eles apenas dependem de si e das suas opções!

J  Esteja atento aos sintomas do seu corpo, eles são uma informação pertinente de situações que estão a ameaçar a sua sintonia e harmonia. Resolva-os quanto antes, não permita que estes se transformem em mais entropia para o seu bem-estar.

J  Se tem dificuldade em lidar emocionalmente com alguma situação adversa ou de mudança, procure um apoio especializado para lidar melhor com a mesma!



2 comentários:

  1. Respostas
    1. Viva Sandra, é um assunto/tema bastante pertinente que surgiu durante uma conversa. Foi, para além de uma vontade imensa de partilha, um privilégio abordá-lo.

      Eliminar