Adelaide tem 44 anos e é professora
efetiva numa escola da sua área de residência. O marido Alberto, é diretor de
produção numa multinacional. O filho de ambos, o Henrique, está prestes a concluir a licenciatura em
engenharia electrónica.
Pelo facto de maior parte dos dias da
semana o horário letivo, de Adelaide, não estar completo, ela aproveita o tempo
para, no sossego de casa, preparar as sua aulas e sempre que pode adiantar
algumas das tarefas domésticas.
Há um mês atrás a multinacional onde
Alberto trabalhava, decidiu sair de Portugal e abrir novas instalações no
Brasil, dispensando e indemnizando os colaboradores mais antigos, conduzindo-os
a uma situação de pré-reforma!
Alberto viu-se inesperada e precocemente
numa situação de “aposentadoria”, sem saber o que fazer, passando a partilhar
mais tempo, em casa, com Adelaide.
Com o passar do tempo, Adelaide começou
a andar irritada, com menos paciência para os colegas e alunos. Por mais do que
uma vez sentiu-se mal, enquanto lecionava.
Ninguém conseguia perceber a origem de todas estas alterações de
Adelaide.
A Síndrome do marido aposentado (SMA)
Síndrome do marido aposentado ou SMA, é
o nome não oficial, utilizado pela maioria das pessoas, quando se referem ao
distúrbio resultante do stress vivido pelas mulheres cujos maridos, fruto de uma situação de aposentadoria forçada ou
desejada, passam muito mais tempo em casa do que quando trabalhavam, provocando
mudanças e alterando as rotinas existentes.
Conhecido na medicina como RHS, sigla em
inglês para Retired Husband Syndrome, este distúrbio, foi diagnosticado, pela
primeira vez em 1991, no Japão pelo Dr. Nobuo Kurokawa, considerado,
atualmente, um dos maiores especialistas mundiais neste tema.
Como e porque acontece?
Se um casal se ama, o facto de poderem
privar mais tempo da companhia um do outro, com o regresso do marido a casa, sobretudo
depois de anos que só se viam de manhã e à noite, fruto de grandes exigências
profissionais por parte deste, pressupõe tornar-se numa situação aprazível para
ambos, mas na realidade nem sempre assim acontece!
Na realidade, fruto da natureza das
atividades profissionais e/ou pessoais que vai desenvolvendo ao longo da vida, cada
um dos membros do casal, cria hábitos e rotinas a que tende a acomodar-se!
As mulheres que, por opção, se dedicaram
prioritariamente ao seu papel de mulher e mãe, fizeram da casa o seu território e gostam de o manter de
acordo com os seus hábitos e escolhas.
As mulheres que dividiram o seu tempo
entre carreira, casa e educação dos filhos, criaram também, por necessidade ou
não, rotinas na gestão diária das suas múltiplas facetas, a que se acomodaram. Algumas
destas, optaram até por fazer da casa o seu local de trabalho (artesãs,
profissionais liberais, opção pelo teletrabalho...), aproveitando assim para
gerirem melhor o seu tempo.
No contexto atual, à semelhança do
Alberto, são frequentes situações em que ao fim de muitos anos dedicados a
construir uma carreira, um dos cônjuges do casal, neste caso o marido,
fruto de uma situação, maior parte das
vezes forçada, passa a ficar mais tempo em casa do que quando trabalhava, provocando
assim a mudança e a alteração das rotinas existentes.
Ao verem-se privadas da sua liberdade
para organizarem o seu dia a dia e diversas atividades, pela presença
permanente do marido em casa que opina,
solicita com frequência a sua companhia
e a execução de tarefas extras, algumas destas mulheres começam a sentir para
além de uma perda de autonomia, a
invasão do seu espaço e domínio e uma
maior necessidade de flexibilidade na gestão diária das tarefas e do
tempo pessoal e familiar. Esta nova condição familiar, é vivida com stress e
muita ansiedade.
Os sintomas, não tardam em manifestar-se: alterações
do humor e do comportamento, ataques de pânico, depressão, erupções cutâneas,
gastrites, alterações da pressão arterial, entre outros do foro psicossomático.
As consequências dos mesmos, para além
do mau estar no próprio, podem levar, sobretudo no caso de negação dos sintomas
manifestos, à deterioração da relação do casal, afetando todos os membros da
família envolvidos na situação.
Mas, nem todas as mulheres vivem do mesmo modo esta situação!
As que são mais flexíveis, confiantes,
resilientes e capazes de se adaptarem a diversos contextos, ultrapassam com
êxito e sem constrangimentos este reajustamento familiar.
O que pode fazer para prevenir?
J
Em primeiro lugar tome consciência das implicações que uma situação
semelhante pode ter para si e para a sua família.
J
Seja proativa! Converse com o seu marido e filhos, analisem vários
cenários alternativos, para ultrapassar a situação, caso ela venha a acontecer.
J
Não pense só em si! Pense no mal estar que o seu parceiro também
poderá sentir, caso a situação seja forçada ao invés de desejada e mesmo que
desejada na “confusão” e reajuste de objetivos que ele terá de fazer.
J
Se alguma destas situações acontecer, converse de imediato com ele,
faça um reajuste às vossas prioridades e objetivos. Deixe espaço para alguns
programas em família. Todos poderão beneficiar.
J
Estimule o seu marido a encontrar novas atividades profissionais
e/ou hobbies, fora de casa, apoie-o nessa procura!
J
Não desanime, esta é apenas uma fase de readaptação, não ceda à
pressão que possa estar a sentir.
J
Seja positiva e acredite que tudo irá mudar para melhor! Confie em
si e no seu potencial para gerir a situação!
J
Se ainda não pratica, comece a praticar alguma atividade física. Vai
ajudá-la a descontrair.
J
Logo que dê pelos primeiros sintomas do distúrbio, não os ignore, converse
com o seu parceiro e caso seja necessário, não hesite, procure ajuda de um
profissional, de preferência de terapia familiar ou de casal.
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