22 de agosto de 2009

Será que a crise nos separa ou nos une?

Nunca a palavra “crise” se ouviu e teve tanta importância como nos últimos tempos.

O contexto sócio-económico em que vivemos está, na realidade, a atravessar um longo período de mudança e toda a mudança, acarreta sempre alguma instabilidade e desconforto durante o seu processo, até à aquisição definitiva de novos hábitos, rotinas.

Mas, porquê apelidar de “crise” este período? Porque não chamar-lhe simplesmente um período de reflexão, de renovação, de desafios, até de oportunidades?

Sim. Não me enganei, OPORTUNIDADES!

É em nomentos de “crise” que devemos estar abertos à mudança, é quando surgem as oportunidades que nos permitem impulsionar a nossa vida para a frente, evoluirmos, testarmos as nossas capacidades, enfim, redescobrirmo-nos e redescobrirmos os que nos rodeiam.

Quando fazemos sempre as mesmas coisas e agimos como se a mudança não existisse, estagnamos, podemos dizer que temos uma vida tranquila, mas a verdade é que não nos chegamos a aperceber da verdadeira essência da vida.

Assim, a mudança faz parte da nossa vida é o que nos permite crescer, progredir, criar, repensar os nossos objectivos e reajustar as estratégias para os alcançar. Enfim estímula-nos e desafia-nos a dar o melhor de nós.

Em que medida o processo de mudança que atravessamos e a instabilidade, que como já referimos está inerente a estes processos, afectam as nossas relações?

Será que a “crise” nos une ou separa?

Ao analisarmos esta temática é óbvio que não nos podemos abstrair do seu impacto sobre a nossa vida e sobre a vida dos que nos rodeiam.

Analisemos os factos:

A instabilidade profissional e financeira, reflectem-se no que para algumas pessoas se tornou sinónimo de poder e de felicidade: os bens materiais, a riqueza exterior que determina o estatuto social.

Quando crescemos e construimos o nosso futuro, mesmo que vivendo sózinhos, fundamentando as nossas atitudes em crenças materialistas, e tendendo a estabelecer relações de amizade, por vezes, belicosas, quase sempre com base no interesse, no lucro que delas possamos retirar, temos dificuldades em aceitar esta nova realidade que se nos depara.

Pensavamos que eramos afortunados e nunca nos apercebemos do quão volátil poderia ser a felicidade que pensavamos ter alcançado.

Que fazer então?
Como enfrentar e lidar com os outros quando, segundo os nossos padrões, perdemos as nossas referências de felicidade e poder (casa, automóvel topo de gama, roupa dos melhores estilistas…)
A tendência será para a revolta para a sensação de perda de batalha e desejo de vingança.
Ao invés da procura, do apoio da família, dos amigos, da amizade pura e sincera, da partilha, da humildade para falar de si e dos seus sentimentos, dificuldades, do pedido de ajuda, da solidariedade com os demais, evitamos ou tomamos atitudes sarcásticas que melindram, menosprezam e afastam aqueles que poderiam ser os nossos alicerces nesta fase em que deles tanto necessitamos.

Separamo-nos assim, de quem mais nos pode ajudar a ultrapassar a “crise”!


Do mesmo modo, se torna difícil para um casal que cresceu e que construiu a sua relação com base em conquistas materiais que vai alcançando e na riqueza exterior que vai acumulando, ao invés de uma relação com base no respeito, na ajuda, na partilha, na amizade, na sinceridade, na humildade e na disponibilidade, conseguir ultrapassar unido este novo período das suas vidas.

Senão vejamos:
Como aceitar a perda de estatuto social, a mudança para um apartamento mais pequeno, ainda que seja uma medida provisória, ou optar por refeições confeccionadas em casa, etc… sobretudo devido ao facto de um ou de ambos os cônjuges terem ficado sem os seus empregos?
A tendência será para acusações mútuas, para descarregar no parceiro a frustação sentida pela perda de “condições de vida”.
A insatisfação e a contrariedade invadem as suas vidas e a vitimização ou o ataque monopolizam as energias de cada um ao invés de as canalizar para o encontro de soluções que contribuam para, em conjunto, encontrarem uma saída para o momento que atravessam.

O casal tende a separar-se!


Mas a “crise” também pode ser positiva, também nos pode dar oportunidades até aí desconhecidas.

Felizmente a “crise” também nos une!

Como?

A família, os amigos e todos aqueles que partilham connosco os caminhos da vida são os nossos portos de abrigo nos momentos de maior turbulência.

Quem não recorda com carinho e afecto os fins de semana em família, os almoços em casa de amigos, as conversas no café do bairro, tudo isto numa fase em que, ainda muito jovens, procuravamos o rumo a dar à nossa vida.

A verdadeira riqueza está, na realidade, ao alcance de todos - “a riqueza humana”.
O amor, a amizade, a persistência, o acreditar em nós e nos outros e a vontade permanente de nos desenvolvermos, é tudo o que necessitamos para a alcançar.

Por isso, quando estruturamos o futuro acreditando em nós próprios, na nossa força, no poder do nosso querer, e valorizando o que temos de melhor, os amigos, a família, encaramos com tranquilidade e optimismo os desafios que nos surgem. Aceitamos com humildade a ajuda, o apoio dos que nos estão mais próximos e com eles conseguimos crescer.

Quando o casal constrói a sua relação com base no amor, respeito, honestidade, comunicação, cumplicidade e amizade profunda, acreditando em si e no seu parceiro(a) reforça permanentemente a sua união e adquire uma estrutura e um saber capazes de ultrapassar qualquer situação com que se depare.
Perante as dificuldades acreditará que irá conseguir ultrapassá-las e tenderá a fazer da união a sua força.
Não existem vítimas nem culpados, o(a) companheiro(a) é a pessoa com a qual em conjunto têm e podem encontrar a solução.

A instabilidade profissional e financeira contribuirá para quebrar rotinas, redescobrir novas formas de estar e de encarar a vida familiar, redefinir prioridades e reforçar a união.

A “crise” pode ser positiva na medida em que nos faz parar o ritmo de vida alucinante que levamos e nos vai permitir dar valor às coisas simples da vida.

Não fique de braços cruzados, tire proveito da “crise”:

- Não menospreze os que estão à sua volta.

- Valorize a sua família e amigos, recupere o tempo “perdido”.

- Confie no seu parceiro(a), lembre-se que estão no mesmo barco com um objectivo comum: vencer a tormenta.

- Mantenha sempre viva a chama do amor e da amizade.

- Valorize-se permanentemente, nunca sabemos tudo e rapidamente ficamos desactualizados.

- Acredite em si, no seu potencial, no seu querer e na sua força para vencer.

- Redefina as sua prioridades e objectivos.

- Aproveite os tempos de mudança e de crise para se superar, redescobrir, arrisque novas práticas, comece novas actividades.

- Aproveite para se actualizar, faça as leituras que há tanto tinha prometido para si mesmo.

- Não se detenha, o ser humano pode ir muito mais além do que os limites da sua consciência lhe permitem perceber.


“Quem supera a crise, supera-se a si mesmo sem ficar superado”. Albert Einstein

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