23 de fevereiro de 2014

A Síndrome do Marido Aposentado

Adelaide tem 44 anos e é professora efetiva numa escola da sua área de residência. O marido Alberto, é diretor de produção numa multinacional. O filho de ambos, o Henrique, está prestes a concluir a licenciatura em engenharia electrónica.

Pelo facto de maior parte dos dias da semana o horário letivo, de Adelaide, não estar completo, ela aproveita o tempo para, no sossego de casa, preparar as sua aulas e sempre que pode adiantar algumas das tarefas domésticas.

Há um mês atrás a multinacional onde Alberto trabalhava, decidiu sair de Portugal e abrir novas instalações no Brasil, dispensando e indemnizando os colaboradores mais antigos, conduzindo-os a uma situação de pré-reforma!

Alberto viu-se inesperada e precocemente numa situação de “aposentadoria”, sem saber o que fazer, passando a partilhar mais tempo, em casa, com Adelaide.

Com o passar do tempo, Adelaide começou a andar irritada, com menos paciência para os colegas e alunos. Por mais do que uma vez sentiu-se mal, enquanto lecionava.  Ninguém conseguia perceber a origem de todas estas alterações de Adelaide.


A Síndrome do marido aposentado (SMA)

Síndrome do marido aposentado ou SMA, é o nome não oficial, utilizado pela maioria das pessoas, quando se referem ao distúrbio resultante do stress vivido pelas mulheres cujos maridos, fruto de  uma situação de aposentadoria forçada ou desejada, passam muito mais tempo em casa do que quando trabalhavam, provocando mudanças e alterando as rotinas existentes.

Conhecido na medicina como RHS, sigla em inglês para Retired Husband Syndrome, este distúrbio, foi diagnosticado, pela primeira vez em 1991, no Japão pelo Dr. Nobuo Kurokawa, considerado, atualmente, um dos maiores especialistas mundiais neste tema.

Como e porque acontece?

Se um casal se ama, o facto de poderem privar mais tempo da companhia um do outro, com o regresso do marido a casa, sobretudo depois de anos que só se viam de manhã e à noite, fruto de grandes exigências profissionais por parte deste, pressupõe tornar-se numa situação aprazível para ambos, mas na realidade nem sempre assim acontece!

Na realidade, fruto da natureza das atividades profissionais e/ou pessoais que vai desenvolvendo ao longo da vida, cada um dos membros do casal, cria hábitos e rotinas a que tende a acomodar-se!

As mulheres que, por opção,  se dedicaram  prioritariamente ao seu papel de mulher e mãe, fizeram da  casa o seu território e gostam de o manter de acordo com os seus hábitos e escolhas.

As mulheres que dividiram o seu tempo entre carreira, casa e educação dos filhos, criaram também, por necessidade ou não, rotinas na gestão diária das suas múltiplas facetas, a que se acomodaram. Algumas destas, optaram até por fazer da casa o seu local de trabalho (artesãs, profissionais liberais, opção pelo teletrabalho...), aproveitando assim para gerirem melhor o seu tempo.

No contexto atual, à semelhança do Alberto, são frequentes situações em que ao fim de muitos anos dedicados a construir uma carreira,   um dos cônjuges do casal, neste caso o marido, fruto de  uma situação, maior parte das vezes forçada, passa a ficar mais tempo em casa do que quando trabalhava, provocando assim a mudança e a alteração das rotinas existentes.

Ao verem-se privadas da sua liberdade para organizarem o seu dia a dia e diversas atividades, pela presença permanente do marido em casa que opina,  
solicita com frequência a sua companhia e a execução de tarefas extras, algumas destas mulheres começam a sentir para além de uma perda de autonomia, a  invasão do seu espaço e domínio e uma  maior necessidade de flexibilidade na gestão diária das tarefas e do tempo pessoal e familiar. Esta nova condição familiar, é vivida com stress e muita ansiedade.

Os sintomas, não tardam em manifestar-se: alterações do humor e do comportamento, ataques de pânico, depressão, erupções cutâneas, gastrites, alterações da pressão arterial, entre outros do foro psicossomático.

As consequências dos mesmos, para além do mau estar no próprio, podem levar, sobretudo no caso de negação dos sintomas manifestos, à deterioração da relação do casal, afetando todos os membros da família envolvidos na situação.

Mas, nem todas as mulheres vivem do mesmo modo esta situação!

As que são mais flexíveis, confiantes, resilientes e capazes de se adaptarem a diversos contextos, ultrapassam com êxito e sem constrangimentos este reajustamento familiar.

O que pode fazer para prevenir?


J  Em primeiro lugar tome consciência das implicações que uma situação semelhante pode ter para si e para a sua família.
J  Seja proativa! Converse com o seu marido e filhos, analisem vários cenários alternativos, para ultrapassar a situação, caso ela venha a acontecer.
J  Não pense só em si! Pense no mal estar que o seu parceiro também poderá sentir, caso a situação seja forçada ao invés de desejada e mesmo que desejada na “confusão” e reajuste de objetivos que ele terá de fazer.
J  Se alguma destas situações acontecer, converse de imediato com ele, faça um reajuste às vossas prioridades e objetivos. Deixe espaço para alguns programas em família. Todos poderão beneficiar.
J  Estimule o seu marido a encontrar novas atividades profissionais e/ou hobbies, fora de casa, apoie-o nessa procura!
J  Não desanime, esta é apenas uma fase de readaptação, não ceda à pressão que possa estar a sentir.
J  Seja positiva e acredite que tudo irá mudar para melhor! Confie em si e no seu potencial para gerir a situação!
J  Se ainda não pratica, comece a praticar alguma atividade física. Vai ajudá-la a descontrair.
J  Logo que dê pelos primeiros sintomas do distúrbio, não os ignore, converse com o seu parceiro e caso seja necessário, não hesite, procure ajuda de um profissional, de preferência de terapia familiar ou de casal.



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