20 de outubro de 2014

Temos ou não livre-arbítrio?


Levo os sapatos azuis ou os pretos? Faço um MBA ou uma especialização na minha área de formação? Faço um depósito a prazo para poupar algum dinheiro ou aproveito e faço uma vida desafogada gastando o que tenho?

Amanhã vou começar a fazer desporto!

O tema deste artigo interessa-me, por isso vou lê-lo!

A maioria das pessoas acredita que é livre para escolher o que faz, desde o mais simples ao mais complexo

Todos temos uma vida pessoal, profissional e social e acreditamos que somos os autores da mesma!

Crescemos e somos educados para sermos responsáveis pelas nossas acções e decisões ao longo da vida, mesmo que sujeitos a constrangimentos da vida, que podem ir desde a genética e educação, a factores diversos.

Acreditamos assim, que temos livre-arbítrio nas escolhas que fazemos e nas acções que empreendemos ao longo da nossa vida.
                                   
Utilizamos a expressão livre-arbítrio para designar a capacidade que o indivíduo tem para tomar decisões por conta própria. Significa juízo livre, vontade e capacidade de escolha entre o bem e o mal, entre o certo e o errado, conscientemente conhecidos.

Imagine como seria uma sociedade com pessoas sem controlo consciente sobre as suas acções?

E o Mundo sem livre-arbítrio?

Acredito que neste momento as palavras que lhe ocorram sejam: caos, impossível, jamais, “salve-se quem puder”, entre outras!

Surpreenda-se, a Neurociência, tem provado, através de diversos estudos experimentais, a existência de actividade cerebral antes que a pessoa tenha consciência do que vai fazer.

Começamos a preparar movimentos antes de sentirmos “vontade” de os fazermos. O nosso cérebro decide o curso das acções, sabe o que vai ser feito, muito antes de nós sabermos.

Recorrendo à ressonância magnética bem como a outro tipo de exames, as investigações mais recentes, corroboram esta tese de que a actividade cerebral precede e determina uma escolha consciente.

Uma decisão pode já ter sido feita pelo cérebro cerca de 5 a 10 segundos antes de tomarmos consciência do que vamos decidir!

A consciência é apenas uma “parte” do cérebro e há outros processos cerebrais que tomam decisões antes dela. É possível que ela surja apenas para contextualizar as situações e dar coerência às nossas acções no mundo!

Para Michael Gazzaniga, o pai da neurociência cognitiva, a nossa mente é gerada pelo cérebro, que guiado pelo determinismo biológico define quem somos.

A Neurociência demonstra-nos assim, que as escolhas que pensamos fazer, expressão da nossa liberdade, são feitas sem o nosso controlo explícito.

Estaremos assim tão iludidos?

Onde fica a nossa liberdade e responsabilidade?

Afinal, temos livre-arbítrio ou não?

Imagine a dita sociedade, descrita no início deste artigo, em que seria fácil a qualquer um matar, roubar ou cometer qualquer outro crime, desculpabilizando-se com “não fui eu, mas o meu cérebro que me mandou fazer isso!”

Os próprios neurocientistas questionam-se e reconhecem como estranha a ideia de um mundo sem livre-arbítrio e procuram conciliar a sua teoria com a questão da responsabilidade pessoal.

Analisemos os factos

Se pararmos para nos autoanalisarmos, verificamos que tomamos muitas decisões sem “pensar”, inconsciente e involuntariamente. Um exemplo, quem já não saiu de casa perfeitamente consciente do local para onde se dirigia, entrou no carro, começa a conduzir e de repente apercebe-se que se está a fazer um outro caminho diferente do previsto? Nesta situação o que faz? Decide corrigir esse mesmo percurso e direccionar-se para o local pretendido. A segunda decisão claro que foi aparentemente voluntária e consciente. Mas e a primeira? Essa certamente que não.

Na realidade decisões simples que não impliquem complexidade de escolhas  podem frequentemente acontecer antes da consciência ter conhecimento.

Quando se trata de decisões como aquelas que são essenciais para a nossa vida, existe um leque de complexidade de escolhas que se reflete no livre-arbítrio e não se reduz ao conhecimento existente da fisiologia cerebral. Algumas poderão assim acontecer antes da consciência ter conhecimento mas outras não.

A temática do livre-arbítrio é demasiado abrangente para que se esgote nas investigações que até à data temos conhecimento!

As certezas:

Mesmo que o nosso cérebro já tenha decidido fazer comprar ou falar temos sempre oportunidade e liberdade para voltar atrás, até ao último instante e alterar essa decisão, desde que tomemos consciência do que estamos prestes a fazer, temos livre-arbítrio para o fazer. 

As escolhas que fazemos na vida são nossas, podem ser ou não conscientes, consoante sejam fruto de uma análise consciente e racional de várias alternativas ou de uma resposta emocional inconsciente, bem como de uma resposta automatizada, de um hábito adquirido.

Esta tomada de consciência do que estamos prestes a fazer, mesmo que no último instante, a liberdade para voltar atrás e decidir melhor são uma excelente oportunidade para nos responsabilizarmos conscientemente pelas nossas acções!

Desta forma podemos afirmar que agimos com livre-arbítrio!

A visão da ciência actual ainda não tem alcance suficiente para explicar, nem justificar, através dos circuitos neuronais a nossa capacidade de aprender e criar ideias novas. A fisiologia cerebral é ainda insuficiente para justificar a complexidade cognitiva.


 

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